Encontrar o nome desta exposição foi algo interessante para mim, tendo adotado uma técnica que costumo utilizar para nomear um trabalho, que consiste em escrever diversas palavras seguidas em lista. Tais palavras precisam ter, certamente, uma conexão com meu processo criativo. Escrevo-as sem filtro, sem pensar muito sobre elas; simplesmente deixo-as sair, como um reflexo, e depois
conecto-as na busca de uma frase que seja uma casa para as imagens. Gosto de títulos grandes, acho que nos fazem refletir um pouco mais.
Já que estou a falar sobre as tais palavras, aproveito para dizê-las aqui e assim, criar uma cama de ideias para este texto que apresenta minha exposição. Como uma chuva fina, faço garoar um universo. Estes trabalhos existem como mapa/lembrança/guia/rua/esquina/casa//solar/chuva de verão/álbum de fotografias/cheiro depois da chuva/inverno ameno/todas as ruas que morei/sob os tetos que dormi/uma porta para uma paisagem/a história da minha paisagem futura/minhas esquinas se cruzam aqui/uma casca que amei/geometria orgânica/em paisagens abri os caminhos/tempo vegetal/sobreposição/devaneio/imagem-sonho/místico/espelho/plano-detalhe.
São exemplos, portanto, de como construo o que desejo dizer. Esta exposição então nomeada "À luz da paisagem prevejo o passado, reinvento o futuro", é a minha terceira exposição individual, e primeira, entretanto, em Portugal. Vivo aqui há dois anos, mas foi apenas em 2023 que retornei à criação artística, ao começar a me adaptar à nova terra e ao perceber que estava a passar por um divisor de águas, à medida que sentia (e que sinto) nostalgia e saudade da minha terra brasilis.
Sentimentos tais que me ocorrem quando, de maneiras muito sensoriais, através de sonhos e memórias, de sons, cheiros, gostos e temperaturas que por vezes me atravessam aqui, traduzo em imagens a miscelânea de lugares que passei, situações que vivi ou imaginei, e que o cotidiano em Portugal me faz revisitar.
A exposição traz pinturas feitas a partir de fotografias pessoais, de representação de elementos simbólicos importantes para mim, abstrações orgânicas e imagens capturadas da minha cidade por mapa virtual, de maneira que todas as coisas juntas formam um todo que constroem uma narrativa.
Busco trazer sensações curiosas, questionamentos sutis sobre a passagem do tempo e como as lembranças nos acessam de maneira não linear, respeitando a sua força abstrata de acontecimento no espaço e nos sentidos.
Cada pessoa que visita uma exposição tem sua própria experiência, seu próprio modo de observar e contemplar, seus próprios sentimentos e elaboração de ideias sobre as obras expostas, e desta forma desejo que meu trabalho caminhe de encontro a todos que aqui vierem, para que possamos construir em conjunto uma atmosfera de aprendizado e partilha, entre o meu olhar e os vossos.
Agradeço imensamente ao Gallery Hostel, pela abertura, confiança e oportunidade!